Corning, 4 de abril de 1952.
Querida Zoca:
Só recebi uma carta sua, até hoje, sua preguiçosa!
Que história é essa? Já se esqueceu tão facilmente do marido ou está me submetendo a duras provas.
Deixei N. York no domingo à noite, dia 30, e cheguei no dia seguinte, pela manhã a Corning. Ao envez de ir ao Canadá, decidiram que, esta semana, passo no Depart. De Controle da Qualidade, coisa muito complexa e muito séria e que não se aprende numa semana.
Controle de Qualidade do material "Pyroceram",
descoberto acidentalmente por um cientista da Corning em 1952
©Corning, Inc
Depois de dois dias de teoria, vendo
estatísticas,
mapas,
quadros de produção, passei ontem a ver de perto o trabalho de
escolha das peças junto ao
forno, afim de ter uma noção dos
defeitos que ocorrem frequentemente na fabricação dos artigos
Pyrex. O trabalho agora é
mais interessante, de natureza mais
prática. Estou cheio de
papelada, que o pessoal da Corning vai me entregando e que terei de
digerir, aos poucos, quando aí chegar.
O Athos termina esta semana o seu treinamento e deve voltar entre 15 e 20 deste mês.
Hoje, eles disseram que, na semana vindoura, eu vou, novamente, viajar para algumas cidades próximas, neste Estado, Albany, Rochester, Buffalo, etc., visitando, em companhia de outro vendedor, alguns atacadistas e lojas.
Na outra semana, então, é que irei ao Canadá; voltando então na semana seguinte para Corning, onde deverei concluir o treinamento, com revisão geral e detalhes dos assuntos.
Devo ficar livre até dia 30 de Abril, quando então resolveremos sobre a data da volta. Possivelmente, ficarei uns 3 a 4 dias em N. York fazendo compras, antes de embarcar.
Não conte para ninguém da S. Marina, mas estou planejando,
por minha conta, voltar de
navio, o que, entre outras coisas, facilitaria a questão da bagagem em Santos, pois, o pessoal do
Martinelli iria ajudar-me e controlaria conferente, etc.
Depende isto talvez do dr. Hicks, com quem oportunamente irei conversar a respeito. Se não for possível, por qualquer circunstâncias, então terei de voltar de avião e a bagagem iria por via marítima, o que quer dizer que só um mês depois é que vocês iriam ver as blusas, combinações, etc. etc.
Estou realmente interessado em voltar quanto antes, mas é tanta coisa ainda para ver e, quando peso que, talvez ai terei de ficar embaraçado com certas questões, pergunto a mim mesmo se realmente estou apto a organizar tudo na S.M.
Enfim, seja o que Deus quizer.
Conforme me informaram na
Panair em N. York, o preço da passagem
marítima é o mesmo e eles aceitam a
troca da Panair pela passagem de navio, segundo certo acordo existente entre as
companhias.
O único inconveniente é a demora, pois, envez de beijar você dois dias depois da partida de N. York, só iria ter esse gostinho no 14º ou 13º dia...
Estou ansioso por novas
notícias, especialmente, por que sei que você está
sem empregada e os dois moleques estavam
resfriados. Imagino só o
trabalho que você deve ter.
Espero que
Marília tenha regressado antes do fim de Março e que esteja realmente
ajudando bastante.
Amanhã, na estação de
rádio local, a pedido da Corning, eles vão me
entrevistar, gravando as minhas palavras antes de irradiar, é claro.
Vamos ver o que vai sair.
Tirei novas
fotografias para a revista da Corning, mas não de
avental e
gorro de
cosinheiro... Só irá sair publicado no número de
Abril, no fim do mês.
Fico esperando suas cartas, mas escreva duas vezes por semana!
Lembranças a todos de casa. Como vai o
Luiz Guilherme? É
forte,
pesado,
louro?
Beijinhos nas crianças e na Marília.
Um saudoso beijo do marido saudoso,
Homero