sábado, 28 de junho de 2014

Curiosidades #10

Zoca e Zé
Minha vó Ilza, a Zoca, era mineira, nascida em Machado e cozinhava como boa mineira.

Uma das mais antigas memórias que tenho é dela esticando a massa da bala de coco, quente, na mão! 

Mas era difícil pegar uma receita dela porque os ingredientes eram misturados "no olho", sem medida muito certa. 

Segredos de cozinheira.




A receita de Feijão Pagão que a minha mãe conseguiu com ela ficou assim:

"Fritar toucinho e linguiça e alho se quiser.
Colocar a linguiça s/ a gordura.
Por cima feijão cozido sem tempero e sem caldo.
Farinha milho, cebola, salsinha, ovo mexido na gordura e jogar por cima - mexendo tudo."




Quando meus pais ficaram noivos, meu avô Homero deu pra futura nora um livro de receitas com esta dedicatória ao lado. >>>


Ele, com certeza, também já tinha sido conquistado (e conservado) pelo estômago.






 E a saudade de casa também era saudade da comidinha da Zoca. Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Trabalhando muito - 04/04/1952

Corning, 4 de abril de 1952.




Querida Zoca:

Só recebi uma carta sua, até hoje, sua preguiçosa!

Que história é essa? Já se esqueceu tão facilmente do marido ou está me submetendo a duras provas. 

Deixei N. York no domingo à noite, dia 30, e cheguei no dia seguinte, pela manhã a Corning. Ao envez de ir ao Canadá, decidiram que, esta semana, passo no Depart. De Controle da Qualidade, coisa muito complexa e muito séria e que não se aprende numa semana.
Controle de Qualidade do material "Pyroceram",
descoberto acidentalmente por um cientista da Corning em 1952
©Corning, Inc

Depois de dois dias de teoria, vendo estatísticas, mapas, quadros de produção, passei ontem a ver de perto o trabalho de escolha das peças junto ao forno, afim de ter uma noção dos defeitos que ocorrem frequentemente na fabricação dos artigos Pyrex. O trabalho agora é mais interessante, de natureza mais prática. Estou cheio de papelada, que o pessoal da Corning vai me entregando e que terei de digerir, aos poucos, quando aí chegar.

O Athos termina esta semana o seu treinamento e deve voltar entre 15 e 20 deste mês. 

Hoje, eles disseram que, na semana vindoura, eu vou, novamente, viajar para algumas cidades próximas, neste Estado, Albany, Rochester, Buffalo, etc., visitando, em companhia de outro vendedor, alguns atacadistas e lojas.


Na outra semana, então, é que irei ao Canadá; voltando então na semana seguinte para Corning, onde deverei concluir o treinamento, com revisão geral e detalhes dos assuntos

Devo ficar livre até dia 30 de Abril, quando então resolveremos sobre a data da volta. Possivelmente, ficarei uns 3 a 4 dias em N. York fazendo compras, antes de embarcar. 

Não conte para ninguém da S. Marina, mas estou planejando, por minha conta, voltar de navio, o que, entre outras coisas, facilitaria a questão da bagagem em Santos, pois, o pessoal do Martinelli iria ajudar-me e controlaria conferente, etc. 

Depende isto talvez do dr. Hicks, com quem oportunamente irei conversar a respeito. Se não for possível, por qualquer circunstâncias, então terei de voltar de avião e a bagagem iria por via marítima, o que quer dizer que só um mês depois é que vocês iriam ver as blusas, combinações, etc. etc. 

Estou realmente interessado em voltar quanto antes, mas é tanta coisa ainda para ver e, quando peso que, talvez ai terei de ficar embaraçado com certas questões, pergunto a mim mesmo se realmente estou apto a organizar tudo na S.M.

Enfim, seja o que Deus quizer

Conforme me informaram na Panair em N. York, o preço da passagem marítima é o mesmo e eles aceitam a troca da Panair pela passagem de navio, segundo certo acordo existente entre as companhias.



O único inconveniente é a demora, pois, envez de beijar você dois dias depois da partida de N. York, só iria ter esse gostinho no 14º ou 13º dia...









Estou ansioso por novas notícias, especialmente, por que sei que você está sem empregada e os dois moleques estavam resfriados. Imagino só o trabalho que você deve ter.

Espero que Marília tenha regressado antes do fim de Março e que esteja realmente ajudando bastante.

Amanhã, na estação de rádio local, a pedido da Corning, eles vão me entrevistar, gravando as minhas palavras antes de irradiar, é claro.

Vamos ver o que vai sair.

Tirei novas fotografias para a revista da Corning, mas não de avental e gorro de cosinheiro... Só irá sair publicado no número de Abril, no fim do mês.


Fico esperando suas cartas, mas escreva duas vezes por semana!







Lembranças a todos de casa. Como vai o Luiz Guilherme? É forte, pesado, louro?

Beijinhos nas crianças e na Marília.

Um saudoso beijo do marido saudoso,

Homero

sábado, 21 de junho de 2014

Curiosidades #9

Quando se ouve o nome "Martinelli" a gente sempre (ou muitas vezes) associa ao Edifício Martinelli. Pelo menos quem é de São Paulo, associa.



Segundo o site do prédio*: "Em 1889 um imigrante Italiano desembarcava no Porto do Rio de Janeiro - seu objetivo era o mesmo de tantos outros que chegavam a América: Prosperar!

Esse imigrante, chamado Giuseppe Martinelli (foto), foi excepcionalmente bem sucedido e em pouco mais de duas décadas havia construído um respeitável patrimônio

Desejoso por deixar um legado mais permanente de seu trabalho, o Comendador Martinelli decide erguer na cidade São Paulo o mais alto arranha-céu da América do Sul, o Edifício Martinelli.




"A obra prometia uma enorme polêmica, pois a São Paulo de então não possuía nenhum edifício de grande estatura, sendo raros os prédios com mais de 5 andares. Planejado para alcançar a barreira dos 100 metros de altura, em uma estrutura não apenas alta como significativamente larga, o Edifício Martinelli marcaria uma transição para a era dos arranha-céus. Passou por momentos difíceis - inclusive, chegou-se a cogitar a sua demolição. Mas o prédio foi recuperado e voltou a ser um orgulho para a cidade..


"Em 1924 deu início à construção do prédio projetado para ter 12 andares, num grande terreno na então área mais nobre da capital, entre as ruas São Bento, Líbero Badaró e avenida São João. O autor do projeto era o arquiteto húngaro William Fillinger, da Academia de Belas Artes de Viena. 

"Todo o cimento da construção era importado da Suécia e da Noruega, pela própria casa importadora de Martinelli. Nas obras trabalhavam mais de 600 operários. 90 artesãos, italianos e espanhóis, cuidavam do esmerado acabamento. Os detalhes da rica fachada foram desenhados pelos irmãos Lacombe, que mais tarde projetariam a entrada do túnel da av. 9 de Julho. 

"Diversos imprevistos prolongaram as obras: as fundações abalaram um prédio vizinho – problema resolvido com a compra do prédio por Martinelli; os cálculos estruturais complexos levaram à importação de uma máquina de calcular Mercedes da Alemanha.

"Enquanto isso, Martinelli não parava de acrescentar andares ao edifício, estimulado pela própria população que lhe pedia uma altura cada vez maior – de 12 passou para 14, depois 18 e em 1928 chegou a 20

Obras em 1927
"Nessa época o próprio Martinelli já havia assumido o projeto arquitetônico, e, não se satisfazendo em fiscalizar diariamente as obras, também trabalhava como pedreiro – retomando assim a profissão que exercera na juventude na Itália – e demonstrava enorme prazer em ensinar aos operários mais jovens os macetes da profissão.

"Quando o prédio atingiu 24 andares, foi embargado, por não ter licença e desrespeitar as leis municipais – havia um grande debate na época sobre a conveniência ou não de se construir prédios altos na cidade. A questão foi parar nos tribunais e assumiu contornos políticos, sendo aproveitada pela oposição para fustigar Martinelli e a prefeitura municipal. 




Mansão do Comendador no topo do Edifício
"A questão foi resolvida por uma comissão técnica que garantiu que o prédio era seguro e limitando a altura do prédio a 25 andares. O objetivo de Martinelli, contudo, era chegar aos 30 andares, e o fez construindo sua nova residência com 5 andares no topo do prédio – tal como Gustave Eiffel fizera no topo de sua torre. 

"O Martinelli impressionava não só pelas dimensões como pela rica ornamentação e luxuoso acabamento: portas de pinho de Riga, escadas de mármore de Carrara, vidros, espelhos e papéis de parede belgas, louça sanitária inglesa, elevadores suíços – tudo o que havia de melhor na época; paredes das escadas revestidas de marmorite, pintura a óleo nas salas a partir do 20º andar, 40 quilômetros de molduras de gesso em arabescos.

"Entre os inquilinos do prédio, partidos políticos como o PRP, jornais, clubes (ente eles o Palmeiras e a Portuguesa), sindicatos, restaurantes, confeitarias, boates, um hotel (São Bento), o cine Rosário, a escola de dança do professor Patrizi. O tino comercial do Comendador Martinelli se revelava até nas empenas cegas do prédio, que serviam de outdoor gigante para uma série de produtos, entre eles a “pasta dental Elba”, o “café Bhering” e a aguardente Fernet Branca – importada pelo próprio Martinelli.

"Mesmo antes de sua conclusão o prédio já havia se tornado um símbolo e ícone de São Paulo – em 1931 o inventor do rádio, Guglielmo Marconi, visitou a cidade e foi levado até o topo do edifício. Quando o Zeppelin sobrevoou a cidade em 1933, deu uma volta em torno do Martinelli.

"Contudo, para o Comendador a construção do prédio acarretou sérios problemas financeiros, e em 1934 foi forçado a vender o edifício para o governo da Itália



"Em 1943, com a declaração de guerra do Brasil ao eixo, todos os bens italianos foram confiscados e o Martinelli passou a ser propriedade da União, tendo inclusive sido rebatizado com o nome de Edifício América.

"Com o fim da II Guerra, a cidade entrou em uma fase de enorme progresso que se refletiu em um boom imobiliário. Em 1947 o Martinelli perdeu o título de prédio mais alto de São Paulo para o vizinho Edifício do Banco do Estado (Edifício Altino Arantes). Porém o prejuízo foi a construção da massa gigantesca do Banco do Brasil do outro lado da av. São João no início dos anos 50, fazendo sombra ao Martinelli – que se tornou assim vítima da própria verticalização da qual tinha sido pioneiro.

"Nas décadas de 60 e início da de 70, o prédio entra em rápida decadência por uma série de fatores. O prédio se torna uma favela vertical, ocupado por famílias de baixa renda (o Martinelli era uma das poucas opções de moradia barata no centro) em péssimas condições de salubridade. O cenário é de um verdadeiro filme de terror. Nos corredores compridos e sombrios, onde crianças brincavam em meio à promiscuidade, espreitavam ladrões e prostitutas. Os elevadores pararam de funcionar; o lixo deixou de ser recolhido e passou a ser jogado nos poços de ventilação– as montanhas de lixo atingiam dezenas de metros de altura, e permeavam o prédio com um cheiro de morte.

"O Martinelli passou a cenário de vários crimes de grande repercussão, como o do menino Davilson em 1947, violentado, estrangulado e jogado no poço do elevador. O assassino nunca foi encontrado. Em meio à miséria e à degradação humana, uma igreja evangélica funcionava no 17º andar, atraindo os infelizes e desesperançados moradores do edifício.



























Edifício Martinelli em 2000,
com Ed. Altino Arantes ao fundo à esquerda
"Então, em 1975 o recém-empossado prefeito Olavo Setúbal decidiu salvar o edifício. Desapropriou o prédio – foi necessária a intervenção do exército para retirar os moradores mais renitentes – e deu início à restauração. O responsável pelas obras foi o Engenheiro Walter Merlo, chefiando 640 operários. 

"Os sistemas hidráulico e elétrico foram totalmente substituídos, novos elevadores foram instalados, a fachada foi limpa com jateamento de areia. Um moderno sistema de prevenção a incêndios foi instalado, tornando o Martinelli um dos mais seguros da cidade. 

Em 1979 foi reinaugurado, sendo ocupado por diversas repartições municipais, como a Emurb e a Cohab."




E onde é que essa história toda se encontra com a história aqui do blog? 

Quando o italiano Giuseppe Martinelli migrou para o Brasil começou trabalhando como açougueiro e depois como mascate. Em Santos, entrou no ramo de despachos trabalhando como empregado e alguns anos depois abriu com o irmão a sua própria firma, que logo se tornou uma respeitada importadora. Conforme já mencionado, ele mesmo importava o material de construção do edifício.

Em 1911 rompeu com o irmão e criou a "Sociedade Anônima Martinelli" que deu um salto durante a Primeira Guerra Mundial quando começou a formar sua própria frota de navios para suprir a falta de transportes. 

Em 1922 já possuía 22 navios.

Logo se transformou em armador e um dos homens mais ricos de São Paulo o que levou à construção do Edifício para deixar sua marca na cidade, como já foi dito.






Aí que chegamos no ponto: o vô Homero pretendia utilizar os serviços da Martinelli quando estava planejando seu retorno ao Brasil. Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 



Fontes:

- * http://www.prediomartinelli.com.br/historia.php
- http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/noticias/?p=4230

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Um pouco de solidão - 27/03/52














N. York, 27 de Março de 1952.


Minha querida Zoca:

Hoje é 6ª. Feira e terminei o meu estágio aqui com o G. Mackey, o irlandês-americano, um homem de 1,90 de alt., louro, de óculos, sempre com um cachimbo à boca. Temos visitado várias firmas atacadistas e lojas, que compram e vendem Pyrex, e acho que foi bem proveitosa a temporada aqui para o futuro Pyrex brasileiro

O difícil de aguentar nesses americanos é a questão da bebida

Como eles bebem, meu Deus


Esse irlandês, então, me levou uma parte dos dólares, porque eu, naturalmente querendo ser amável, pois, o coitado estava sendo também amável em suportar este estrangeiro, sempre prontifiquei-me em pagar-lhe os wiskies e o taxi, quando ele não estava com o carro próprio. 

É verdade que os dólares não são os meus, nem os do meu salário de 75.00 semanais que a Corning me paga. Quando vim para N.Y., o dr. Hicks deu-me 250.00 para as despesas desta semana aqui, e naturalmente, ao prestar contas na volta a Corning, vou mencionar as despesas que tive comigo e com o irlandês-americano Mackey. 


Ficamos amigos e ele chegou a pedir-me pra que indique o nome dele para ir ao Brasil ajudar a preparar os vendedores!... Bobagem, porque não adiantaria nada termos ai um americano a ensinar brasileiros sobre como se vende Pyrex nos EE.UU...




Amanhã, sábado, vou aproveitar para fazer algumas compras e alguns passeios nos arredores, o que não tive tempo de fazer porque sempre chegava tarde ao Hotel, visto que o americano (Mackey) não me largava e jantava comigo. 

Pudera, tudo era pago pela CGW...

Regresso à Corning domingo à noite, pelo trem noturno, devendo estar em Corning, se Deus quizer, 2ª. Feira, às 9 horas. 

Parece que de lá terei de passar uma semana em Leaside, Canadá; e depois, terei de ver o que vão resolver.

Apezar de estarmos na primavera, os dias continuam frios, e o povo, e eu também, sempre sai com capa ou sobretudo.


Estou com um pouco de dor de cabeça por causa dos drinks. Tanto que hoje comecei a recusar e a dizer que são ordens do médico

Peço então leite ou refresco e eles então acham graça, mas quando falo que são ordens do médico, eles imediatamente se conformam.

Eles têm um medo tremendo de ficar doentes e a palavra do médico é qualquer coisa séria aqui. Há poucos remédios nas drogarias que se possa comprar para uso sem prescrição médico. Dos analgésicos por ex., estou arrependido de não ter trazido mais Cibalena, pois, só encontro simples Aspirina... 


Não tenho dormido muito bem: as preocupações absorvem a gente, pois, os problemas a defrontar ai são muitos. Passo dias inteiros sem dizer uma palavra em português, e, quando falo sosinho, parece qualquer coisa estranha



É preciso você escrever duas vezes por semana, contando as artes dos moleques e as novidades de casa, de você, dos parentes, etc. 

Para ser-lhe franco, minha querida, ouça aqui, bem no ouvido
eu estou com muitas saudades de você... e isto já está ficando um pouco “chato”

Enfim, vamos aguentando.

Um beijo gostoso e saudoso do marido que te ama muito,

Homero



Beijos nas crianças e lembranças a todos de casa e parentes.

sábado, 14 de junho de 2014

Curiosidades #8

Em 1937,  Harold Cole Watkins cometeu suicídio

Ele era químico e trabalhava num o laboratório farmacêutico chamado S. E. Massengill quando criou o "Elixir Sulfanilamide".

Esse remédio causou a morte de 107 pessoas, entre elas muitas crianças

O princípio ativo do remédio já era usado para tratar infecções porém sempre em tabletes ou em , o que o tornava de difícil ingestão, principalmente entre crianças.

Watkins percebeu que a sulfanilamida dissolvia bem em dietileno glicol e adicionando sabor de framboesa criou o Elixir que foi distribuído por diversos estados. Sem muitos testes!

Ocorre que antes disso, durante o século XIX, em uma época com recursos médicos limitados para tratar doenças estudadas e examinadas com o devido método científico, uma população cada vez mais urbana nos Estados Unidos desenvolveu um apetite por elixires médicos




Esses “remédios” alegavam comercialmente que curavam de tudo: de câncer a doenças venéreas, problemas femininos, dores de estômago e epilepsia, sempre através de exotismo, mistério e afirmações grandiosas de eficácia.


Um produto amplamente vendidos no final de 1800 e início do século XX, “O Assassino do Micróbios de William Radam”, corajosamente declarava no rótulo "Cura todas as doenças", enquanto Dr. Sibley anunciava que sua “Tintura Solar” era capaz de "restaurar a vida em caso de morte súbita”. 

Na verdade, esses produtos, muitas vezes simplesmente por conter ópio, cocaína ou álcool, faziam quem os ingeria se sentirem "melhor" ou "curado".

No entanto, em muitos casos, eles continham ingredientes tóxicos, tais como acetanilida (analgésico) ou fosfato de cresilo (anestésico).




Um exemplo brasileiro

No início de 1900, enquanto o famoso jornalista sensacionalista Upton Sinclair detalhava e suas publicações as condições horríveis de indústria de embalagem de carne, alguns de seus colegas expuseram as falsas alegações, ingredientes prejudiciais e manipulação desses elixires e seus fabricantes.















A mais famosa destas investigações foi publicada na revista Collier's por Samuel Hopkins Adams em uma série intitulada "A Grande Fraude Americana", concluída em fevereiro de 1906, o mesmo mês que Upton Sinclair publicou “A Selva” (sobre os horrores do trabalho na indústria da carne). 


Theodore Roosevelt
Quatro meses depois, o primeiro “Federal Pure Food and Drug Act” (Ato Federal de Comida Pura e Drogas) foi assinado pelo presidente Theodore Roosevelt, proibindo o comércio interestadual de alimentos e medicamentos adulterados e com rótulos fraudulentos. Embora isso tenha levado muitos medicamentos patenteados a remover os narcóticos das fórmulas ao invés de rotulá-los, foi menos bem sucedido em reprimir as afirmações exageradas ou prevenir que muitas substâncias perigosas chegassem aos consumidores.

Entre 1906 e 1938, muitos problemas com drogas perigosas que geravam também muitos processos judiciais demonstraram que o “Pure Food and Drugs Act” ficou obsoleto e não foi suficiente para proteger a segurança pública. 

A "Tragédia do Elixir de Sulfanilamida” em 1937, que continha dietileno glicol, um análogo químico de anticongelante, que levou à morte 107 pessoas e ao suicídio de Harold Cole Watkins, tornou-se o impulso urgente para a aprovação do “Federal Food, Drug, and Cosmetic Act”. 

Entre as importante disposições da Lei estão as que todas as drogas devem ser testadas para a segurança antes da comercialização, e os resultados submetidos ao FDA (Foods and Drugs Administration). Também autorizava inspeções em fábricas e exigia o estabelecimento de tolerâncias seguras para substâncias tóxicas inevitáveis.





Além disso, exigia que as farmácias e drogarias somente vendessem remédios com prescrição médica, que, apesar de algumas alterações durante os anos, ainda hoje continuam bem exigentes.

Contei isso tudo porque o vô Homero não conseguiu comprar o remédio pra dor de cabeça! Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 

Fontes:
-http://www.the-scientist.com/?articles.view/articleNo/35714/title/The-Elixir-Tragedy--1937/
-http://en.wikipedia.org/wiki/S._E._Massengill_Company
-http://en.wikipedia.org/wiki/Elixir_Sulfanilamide
-http://www.fda.gov/AboutFDA/WhatWeDo/History/ProductRegulation/SulfanilamideDisaster/default.htm
-http://syntheticenvironment.blogspot.com.br/2007/04/top-5-suicide-chemists.html
-http://www.appalachianhistory.net/2012/10/my-chemists-and-i-deeply-regret-fatal.html
-http://www.toxicology.org/AI/MEET/AM2011/poster_press/56x44THR_Timeline_poster_press.pdf

quarta-feira, 11 de junho de 2014

De volta a NYC - 22/03/1952


N.Y. Está sem data, mas eu sei que é 22/03/1952

Querida Ilza:


Recebi ôntem a sua carta de 17, depois de estar muito aflito por notícias. \o/ êêêêêêêêê



Extraído do Guia de Itinerários da New York Central System (1952)
À noite embarquei para cá, viajando em trem noturno, mas, apesar de tudo ser muito confortável, não consegui dormir no trem porque alguém na cabine visinha, penso que embriagado qualquer, levantava-se freqüentemente e fazia barulho constante


Vou passar esta semana aqui, estando no mesmo luxuoso Hotel, agora em quarto sozinho, que me foi reservado, e pagando por dia $8.40, sem break-fast, ou Cr$ 250.00 (dólar a 30.00). 




Hoje é sábado e voltei a olhar as vitrinas. Estive na grande loja “Gimbel’s”, rival da “Macy’s” (já descrita em carta anterior). Achei nesta loja os preços melhores e aproveitei comprando 4 vestidos de rayon, que me pareceram muito bonitinhos, sendo 2 p/ você e 2 para a Marília, a 6.00 cada (180.00). 

As duas moças desse balcão tinham o corpo de você e da Marília e parece que acertei nas medidas porque, depois, perguntei a ambas que número usavam para blusas, combinações e camisolas, e elas me deram exatamente os números que você aí me deu: 32 e 34

Comprei mais camisas de nylon (4.90) para mim e Reginaldo, duas cada um, e cerca de uma dúzia de pares de meias de lã e algodão (1.90 e 0.39) muito vistosasNo decorrer da semana que vou passar aqui, irei comprando mais alguma coisa. Vou ver os patins que o Flávio pediu. 





Parabéns a Luth e ao Guilherme pelo nascimento do Luis Guilherme. Como ainda não tinha recebido nenhuma carta, só agora ele soube que era um menino e o nome escolhido. Só imagino o trabalho que você deve ter tido. Cuidado com o resfriado dos meninos. Dê Cafiaspirina à noite. 

E nada de empregada, pelo que vejo? Pergunte à preta visinha se aquela outra não pode vir. Muito cuidado com a sua saúde também porque você abusa e se esforça demais na escola

Deram-me 250.00 para as despesas desta semana em N.Y, mas a gente nem sabe como gastá-lo. Falta apetite para gastar com bons almoços.





O Athos, até ontem, não tivera carta da mulher e então eu dei-lhe uma “festa” mostrando-lhe a minha.





Fábrica da Corning em Parkersburg, WV
Enquanto eu passo em N.Y. ele terá de ir, junto com um intérprete português que descobriram aqui na fábrica, a uma outra fábrica da Corning, na cidade de Parkersburg, West Virginia, onde também está o Ceppo

Voltaremos a Corning no fim da semana, eu no dia 31 e ele no dia 29. Parece que, depois, irei ao Canadá para ver a fábrica Pyrex lá.




Tenho colhido muito boas idéias e material para nossa futura instalação aí. O pessoal da Corning tem sido extremamente amável conosco, e sublinhando a palavra eu quero insistir e acentuar que eles, bem como o povo americano em geral, com quem tenho convivido, são de fato amáveis, prestativos, simples. Estou realmente encantado com tudo e com todos. É um grande país e um grande povo.


86º andar do Empire State Bld. ©George Rodger 1950
Está chovendo fracamente lá fora e N.Y, a cidade babilônica, num sábado, fica mais calma e socegada


Eu, sosinho, sem um amigo, vou por esta carta no correio para você, cheio de saudades de você e das crianças.


Um beijo muito saudoso do maridinho que a ama

Homero


sábado, 7 de junho de 2014

Curiosidade #7

Muitos já devem ter visto em filmes ou programas de TV a famosa "Parada do Dia de Ação de Graças da Macy's", em Nova York.


É aquela grande festa com shows de música, desfiles de carros alegóricos e os famosos balões gigantes de personagens.


A Parada da Macy's teve início em 1924O Dia de Ação de Graças nos EUA acontece toda 4ª Quinta-Feira de Novembro, portanto, praticamente um mês antes do Natal, e por essa razão a Parada marca a chegada do Papai Noel à Macy's, iniciando o período das compras de Natal.





A "Fita do Papai Noel" que meu avô mencionou numa das primeiras cartas, "Miracle at 34th Street" ("De Ilusão Também se Vive" em português), é de 1947 e mostra a Parada e o Papai Noel chegando.

Natalie Wood e John Paine assistindo à Parada. Edmund Gwenn interpretando Kris Kringle, o Papai Noel.

Gimbels Thanksgiving Day Parade, década de 1920
Porém, essa Parada foi inspirada em outra que já acontecia desde 1920 na cidade de Philadelphia, Estado da Pennsylvania.

Ellis Gimbel, um dos fundadores da loja de departamentos Gimbels organizou a Parada com seus funcionários fantasiados desfilando pela Market Street e finalizando com o Papai Noel chegando ao departamento de brinquedos da Gimbels. Obviamente a intenção era estimular as vendas de brinquedos no período.







ibrary of Congress, Detroit Publishing Company Photograph Collection
Gimbels da Philadelphia por volta de 1910
Adam Gimbel, pai de Ellis e de outros 7 filhos, um imigrante judeu bávaro, fundou a Gimbels com seus filhos. Nasceu como uma lojinha no Estado de Indiana mas logo mudou-se para Wisconsin, na próspera cidade de Milwaukee em 1887 onde se tornou a loja de departamentos líder da cidade.





A rede foi crescendo com a aquisição de outras lojas e foi se espalhando. Em 1910 chegou a Nova York se tornando a principal rival da Macy's.








Essa rivalidade ficava evidente na região da Herald Square, onde as duas grandes lojas eram praticamente vizinhas. Herald Square é uma praça que reúne muitas lojas até hoje e que fica na interseção da Broadway, 6ª Avenida (Avenida das Américas) e Rua 34

Daí o título do filme.




Em outra passagem famosa do filme um garotinho pede ao Papai Noel da Macy's um caminhão de bombeiro de brinquedo que está em falta na loja. O Papai Noel então informa à mãe do garoto que ela encontrará em outra loja causando espanto geral. Ele então explica que o importante é que a criança ganhe o brinquedo desejado, não importando de qual loja venha.


Isso gerou uma boa publicidade para a loja e ao invés de ser repreendido pela direção da loja, eles adotaram a política de enviar clientes para outras lojas se a Macy's não pudesse atendê-los. Queriam ser conhecidos como "Macy's: a loja com coração". 


Em outra cena, os "Sr. Macy" e o "Sr. Gimbel" anunciam que ambos adotariam essa política.




A Gimbel Brtohers Inc. também incorporou em 1923 outra loja icônica de Nova York, a Saks, tornando-a uma subsidiária da Gimbels e se expandindo para outros estados.

Em 1973 Gimbels foi adquirida pela Brown & Williamson, subsidiária americana da British-American Tobacco. Em 1986, não enxergando potencial de crescimento para a Gimbels e não encontrando um comprador para a rede, resolveram liquidar a companhia e vender seu patrimônio.

Com o encerramento das atividades da Gimbels, em 1986, a Parada lá da Philadelphia passou a ser patrocinada pela emissora local da ABC (6abc) e pela Boscov (outra loja de departamentos). 

De 2008 a 2010 a IKEA assumiu o patrocínio junto com a 6abc


Atualmente ela é a "6abc Dunkin' Donuts Thanksgiving Day Parade" considerada a mais antiga parada de Dia de Ação de Graças dos EUA.



Na comédia "Elf" (Um Doende em Nova York, 2003) o ator Will Ferrel interpreta um ser humano criado por doendes do Papai Noel que volta a Nova York em busca do seu pai biológico. 

Ele é confundido com um empregado da Gimbels e fica trabalhando na loja que, na realidade, já não mais existia mas foi, digamos, homenageada no filme.

A Gimbels do filme "Elf"

E quem será que passou na Gimbels em 1952? Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 

Fontes:
-http://nycvintage.blogspot.com.br/2011/05/nyc-vintage-image-of-day-gimbels.html
-http://en.wikipedia.org/wiki/Gimbels
-http://en.wikipedia.org/wiki/6abc_IKEA_Thanksgiving_Day_Parade
-http://www.phillyhistory.org/blog/index.php/2010/11/floats-balloons-and-celebrities-oh-my-philadelphias-thanksgiving-day-parade/
-http://en.wikipedia.org/wiki/Miracle_on_34th_Street
-http://www.infoplease.com/encyclopedia/people/gimbel.html
-http://en.wikipedia.org/wiki/Elf_(movie)