sábado, 31 de maio de 2014

Curiosidades #6

Hoje a gente pode entrar no site da Amazon, procurar um produto qualquer, encomendar, pagar, geralmente com cartão de crédito e receber em casa


Alguns anos antes a gente via na televisão um anúncio que dizia "ligue já e encomende logo o seu". Você ligava lá no 011-1406, encomendava suas meias Vivarina e suas facas Ginsu que eram entregues em casa.




Mas antes da internet, antes da televisão e do telefone, o princípio disso tudo foram os catálogos de vendas.

Pryce-Jones
O primeiro que se tem notícia foi o "Royal Welsh Warehouse" criado em 1861 por Sir Pryce Pryce-Jones, do País de Gales, vendendo, inicialmente, flanelas. Com o crescimento das estradas de ferro e evolução dos correios, o negócio cresceu se tornando global. Em 1880 já atingia 10.000 clientes, muitos deles que viviam isolados nos campos e tinham dificuldade de ir até às cidades fazer compras.

Pryce-Jones  ganhou o título de Cavaleiro Real (Sir) da Rainha Victória em 1887. Morreu aos 85 anos, em 1920 e sua companhia sofreu grande revés com a Grande Depressão de 1929 e dos anos seguintes. Foi adquirida por uma outra companhia de Liverpool em 1938. 

Aaron Montgomery Ward
Nos Estados Unidos, em 1872, com uma única folha de aproximadamente 20 x 30cm contendo uma lista de mercadorias e instruções de postagem, Aaron Montgomery Ward, de Chicago, começou o seu negócio. 



Ele havia trabalhado muito tempo como caixeiro viajante e percebeu como os fazendeiros e homens do campo pagavam mais caro por mercadorias diversas nas lojas locais. Comprando direto dos fabricantes e revendendo aos consumidores, ele conseguiria eliminar os intermediários e, assim, reduzir drasticamente os preços e aumentando a variedade de mercadorias disponíveis aos compradores.



‘Chicago in flames’, litografia de Currier e Ives.
A primeira tentativa de Ward com esse negócio foi destruída no famoso Grande Incêndio de Chicago em 1871, que destruiu todo seu estoque.

Teve dificuldade em arranjar o capital inicial e com apenas 1.600 dólares e 2 sócios publicou aquele primeiro catálogo de 01 folha com 163 itens.







Capa de um catálogo Montgomery Ward
Em 20 anos o catálogo Montgomery Ward era uma publicação de 540 páginas ilustradas com os mais de 20.000 itens à venda. 

Foi a primeira companhia que adotou a política "Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta".





Entre os anos de 1921 e 1931 chegou a vender em seus catálogos até mesmo casas pré-fabricadas! Eram chamadas Wardway Homes.










Capa de um catálogo Sears

O maior concorrente de Montgomery Ward surgiu em 1896, fundada por  Richard Warren Sears, a Sears, Roebuck and Co., também de Chicago, 

Até hoje, a famosa Sears. 






Loja Montgomery Ward em Tucson, Arizona, 1929
AAron morreu em 1913 mas a companhia continuou crescendo firme e forte e em 1926 abriu sua primeira loja física. 

Em 2 anos já eram 244 e em 1929, 531 lojas. Com a Grande Depressão foram necessários vários ajustes na estrutura da empresa mas antes mesmo do fim dos anos 30 ela já era uma empresa lucrativa novamente.








Logotipo usado de 1992 a 1999
Com diversos altos e baixos durante os anos, foi sendo comprada e vendida por outras empresas. Em 1985 as vendas por catálogo foram encerradas. Nos anos 90, a cadeia de lojas, enfrentou concordata, falência e encerramento das atividades em 2000.


Apesar disso, o nome, a marca, ainda era considerada valiosa por toda sua história e por ter sido uma das maiores redes varejistas em seu auge. Dessa forma, em 2004, uma outra empresa adquiriu os direitos sobre essa marca e relançou o catálogo e o site de compras, agora chamada simplesmente Wards (wards.com), hoje de propriedade de Colony Brands, Inc.

No Brasil atualmente, tirando os catálogos de venda direta próprios de cada marca (como Avon, Tupperwear, Natura etc.), os que mais se assemelham ao antigo catálogo Montgomery Ward são o catálogo Hermes, Golfran, Mixlar entre outros.

E por quê estou escrevendo sobre venda por catálogo? Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 


Fontes:
http://en.wikipedia.org/wiki/Pryce_Pryce-Jones
http://en.wikipedia.org/wiki/Aaron_Montgomery_Ward
http://en.wikipedia.org/wiki/Montgomery_Ward

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Cotidiano - 20/03/52


Corning, 20 de março de 1952.

Minha querida Ilza: 

Esperei mais dois dias e nada de cartas de você. Estou algo inquieto, porque imagino que já era tempo de você ter-me escrito a primeira carta. Arranjei esta máquina, mas não tem os sinais usados no alfabeto português. Mas penso que você não terá dificuldades em lê-la, se for pondo por sua conta os necessários acentos.

Tenho gosado de boa saúde. Todos aqui esperam ansiosos a primavera, cansados que estão do longo inverno. Alguns queixam-se de que o inverno é longo demais e dizem que passam 8 meses do ano dentro de casa ou usando grossos capotes quando vão à rua. As mulheres usam calças compridas, de lã, sapatos tipo galocha, enfim, agazalhadas até os olhos.

Dizem que a primavera chegará amanhã, dia 21, a partir de meia noite, mas ainda ontem de manhã, quando olhei para a rua, ao levantar-me, caia neve como nunca havíamos visto antes. Fomos para o escritório com a neve caindo sobre nosso chapéo e capa. Ao chegarmos lá (são umas quatro quadras de distância), estávamos com uma carga de neve sobre a aba do chapéo e os ombros do sobretudo ou capa também tinham flocos de neve. Depois, saiu um sol bonito e a neve começou a derreter, caindo dos telhados água que parecia estar chovendo.

Esse regimem alimentar que estamos levando, sem feijão, sem arroz, pouca e rara carne, está me fazendo emagrecer, mas me sinto muito bem, graças a Deus. Pesei-me ontem e parece que estou com 1 kilo a menos, mas não tem maior importância.

Esta semana estou passando, pela manhã, na Cosinha Modelo de Provas, dirigida por Mrs. Lucy M. Maltby, doutora formada em ciências econômicas e não sei mais o que Relembre.

Lucy M. Maltby

É uma velhota muito amável
(aliás como são todos aqui).


A "velhota", segundo o seu obituário, não tinha ainda completado 52 anos!




Esse departamento não é uma cosinha no sentido da palavra. Mas faz pesquizas sobre receitas, formas econômicas de cozinhar, uso melhor do Pyrex e ao mesmo tempo treina os vendedores (neste caso, eu) e um certo número de moças formadas em Economia do Lar (deve corresponder às nossas Escolas de Economia Doméstica) para percorrerem as lojas, escolas, estações de rádio e televisão, ensinando, difundindo o uso do PYREX, sugerindo os pratos adequados, dando receitas, etc. 

Hoje, estive aprendendo a fazer café nos Percolatores que eles usam aqui e fazendo observações entre o uso dos diversos tipos em relação ao Percolator Pyrex.

Percolator é um lindo bule de vidro resistente ao fogo, com um funil ou bomba interna, com um coador de metal embutido internamente. O café fica pronto em 10 a 15 minutos e tirando-se, depois, a bombinha interna, pode ser servido no próprio bule. 

Vou comprar e levar uns dois para nós, pois, são muito bonitos e práticos. O pó de café é muito grosso aqui. O café sai muito fraco, mas, eu tenho tolerado bem.

Bebem café estes americanos de uma maneira inacreditável!


Veja como se usa um Pyrex Percolator



Gaffer, agosto 1945
Ainda sobre a cosinha: lá esteve hoje um fotógrafo da Corning e tirou fotografias nossas. Vou aparecer na “Gaffer”, a revista da Corning, ao lado de duas moças. Numa foto, estou tirando a temperatura da água para fazer café, enquanto uma das girls está me mostrando o relógio para medição do tempo. Em outra, o forno está aberto e eu estou pondo um prato com “apple-pie” dentro do forno. O mais engraçado é que tive que por um avental branco e um gorro branco na cabeça; assim estou como um perfeito cosinheiro!

Coisas americanas, a que a gente tem de aceder para não passar por caipira...


Não resta dúvida que eu, como sempre e para desespero de você, fiz umas micagens... 


À tarde, passo ouvindo longas e tremendas explicações que os chefões de venda, propaganda, etc., vem me trazer, inundando-me com uma massa de papelório, relatórios, inquéritos, estatísticas, que até fico tonto de tanta coisa.

É claro que aproveitaremos aí uma parte disso tudo, mas sempre é interessante conhecer o que eles fazem para depois adatarmos ao nosso sistema e costumes.



O Athos tem mais sorte do que eu: já recebeu cartas daí, dos irmãos, amigos – mas, por outro lado, nada da mulher, como eu!...


sábado, 24 de maio de 2014

Curiosidades #5


O olhar feminino esteve presente na invenção do Pyrex, à partir do pedido da esposa de um físico da vidraria. Em 1913, Bessie Littleton reclamou com o marido, Jesse, que as caçarolas estavam se quebrando no forno. Ele, então, levou pra casa dois fundos de tubo de bateria feitos de vidro borossilicato. A Corning somente fabricava produtos industriais e não tinha nenhuma linha de produtos de consumo

Como a experiência de cozinhar nesses recipientes deu certo, à partir daí a Corning realizou muitos outros testes para então lançar sua primeira linha de produtos de consumo batizada de Pyrex, em 1915, fazendo muito sucesso.


Já no fim da década de 1920 as vendas de Pyrex estavam estagnadas. Em 1920 consistia em 25% das vendas da Corning, caindo para 19% em 1922, e novamente caindo para 13% em 1926.

Uma grande pesquisa foi encomendada para a agência de publicidade J. Walter Thompson visando a retomada das vendas. 

Depois de 3 anos concluíram que os problemas eram:

1) Preço alto em relação aos similares de outros materiais; 

2) Frustração da consumidora quando o vidro “milagroso” se quebrava; 

3) Estilo monótono da peças.

Precisavam, portanto, focar na redução do preço e inovação tecnológica visando qualidade e design.




Em 1929 uma mulher foi aos escritórios da Corning Glass Works com uma reclamação. Algumas reclamações, na verdade. Disse que os utensílios de cozinha Pyrex eram impraticáveis; que as tampas das caçarolas eram difíceis de se pegar usando luvas de cozinha; assadeiras não eram compatíveis com as receitas e com o tamanho diminuto dos fornos modernos.


Usando esboços que ela trouxera, mostrou como os produtos poderiam ser melhorados para as donas-de-casa.


Mas ela não era uma dona-de-casa qualquer. Tinha formação em Economia Doméstica na Cornell University, mestrado na Iowa State College e 7 anos de experiência lecionando Economia Doméstica em escolas e faculdades.


Apesar de desde 1918 a Corning ter ocasionalmente pensado em adicionar a "perspectiva feminina" nas suas pesquisas, foi a partir desse fato que foi instituído na empresa um Departamento de Economia Doméstica.


O fato dessa mulher ser de uma família proeminente na cidade certamente ajudou com que ela fosse ouvida pela fabricante, mas o que realmente fez com que o departamento fosse concretizado foi o nível de estudo em Economia Doméstica que ela tinha.


Economia Doméstica era um campo de atuação que as mulheres dominavam (e ainda dominam) e muitas vezes confundido com apenas "cuidar da casa". 

Cuidar da casa: uma tradição que passa de mãe para filha








Essas tarefinhas bobas como lavar roupa, limpar a casa, passar roupa, cozinhar, dar banho nos filhos, levá-los na escola (e no balé, no inglês, no judô, no médico, no dentista...), ir ao supermercado, ao açougue, à quitanda, comprar roupa de cama, mesa e banho, e das crianças, e do marido, e as dela também, comprar material escolar, ajudar na lição de casa, só pra começar...

Mas a ciência da Economia Doméstica era muito mais do que isso. Ela convenceu os gerentes da Corning que para ter sucesso fazendo produtos para casa, era preciso o olhar feminino da consumidora.




O Departamento de Economia Doméstica na Corning, de 1929 a 1931, era um pequeno escritório de serviço ao consumidor. Em 1931 foi ampliado com a criação da Cozinha de Testes. E novamente ampliado com a contratação de representantes para Pesquisas de Campo em 1944.



A Cozinha de Testes na década de 60
Sob o comando dessa Economista Doméstica o "Corning Glass Works' Home Economics Department and Test Kitchen" era destinado à pesquisa e estudo permanente das necessidades dos consumidores e aplicação da economia doméstica no desenvolvimento de produtos.

Fazia o “meio-de-campo” entre consumidor e fabricante e tinha muita importância nessa companhia que sempre teve como cultura corporativa o incentivo às pesquisas.





O vô Homero conheceu em Corning essa "velhota" em 1952 . Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 

P.S: Outro fato curioso: naquele mesmo ano de 1952 a Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, hoje Universidade Federal de Viçosa, implantou a Escola Superior de Ciências Domésticas, a primeira do Brasil.



Fonte:
Rethinking Home Economics: Women and the History of a Profession editado por Sarah Stage,Virginia Bramble Vincenti

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Aguardando resposta - 18/03/52

Corning, 18 de março de 1952.

Minha querida Ilza:

Estou esperando uma carta sua desde sábado e hoje já é 3ª. feira, meio-dia, e nada de notícias daíTalvez, você tenha estado bastante ocupada ou apenas esperando minha primeira carta (que escrevi de N.Y.) para então responder-me.

Passamos dois dias no Hotel, a 5.00 (cr$ 165,00) por dia, sem café, e então passamos para a casa do Sr. Dorn, Wall Street 141. 
141 Wall Street, em setembro de 2013

A senhora dele voltou do hospital há duas semanas, após longo tratamento de saúde. Não pude saber ainda que tipo de doença tinha ela. Ela estava interessada em nossa vinda porque como está só numa casa que tem 4 quartos em cima, em companhia da empregada (Mrs. Trumble, aquela que a sra. Ceppo falou), disse que ficaria mais descansada com a nossa presença. Ela é lituana de nascimento, mas fala perfeitamente o inglês, além de espanhol, que aprendeu durante o tempo em que moraram na Colômbia, cerca de dois anos. 

O meu quarto é muito bom, confortável, com janelas em meio círculo na frente, cortinas brancas (que são muito comuns aqui), com guarnições em tecido pesado, estampado, também muito usado aqui. Cama de colchão de molas, que é de uso geral também, com cobertas ótimas, inclusive dois cobertores de pura lã, que espero comprar para levar, pois são extremamente leves, mas quentes. Avalio como você gostaria desses cobertores, não só por serem uma beleza, mas por serem muito quentes.

Tudo muito bem arranjado, a tal ponto que, no banheiro, ela pôs dois cabides ou porta-toalhas, para as nossas toalhas de banho e de rosto, tendo escrito num papel, colado acima de casa porta-toalhas, o meu nome e o do Athos, além do dono da casa “Mr.Dorns”




Podemos usar o “living-room”
que é muito confortável espaçoso, poltronas, abat-jours junto a cada poltrona, vitrola e rádio








Nosso break-fast consta de um copo de suco de laranja (não tão doces como as nossas laranjas), um ovo com presunto (faziam dois, mas pedimos agora só um), cereal ou flocos de milho ou cangica em flocos, com leite e assucar misturado Deve estar se referindo a "GRITS", geléia de cereja e, finalmente, café com creme de leite






Evidentemente, depois de um break-fast deste, não temos quase fome no almoço, que temos feito no bar do Freitas (um português que aqui está há 30 anos e mistura português com inglês), e consta geralmente de sandwiches de queijo reforçado, leite frio e às vezes uma sopa ligeira. Jantamos também no Freitas, ficando em média cada almoço ou jantar em 1 dolar ou ligeiramente mais

Pegamos uma semana de muita neve e frio, com vento gelado, aqui em Corning, o que você avaliar vendo as fotografias que o Athos tirou e que junto algumas.






Tivemos uma manhã destas, 6,5 graus abaixo de zero e estava tudo branco. Não sei se já escrevi que tive que comprar um chapéo (5.00 ou Cr$150,00) para poder andar na rua, sob os flocos de neve que caíram nesses dias, visto que ninguém usa guarda-chuva; usam automóvel. Quasi todo mundo tem carro, operários, empregados e patrões, de forma que nós tivemos que enfrentar esse frio tremendo quando tínhamos que ir ou voltar do escritório.




Meu serviço vai indo mais ou menos, tomando conhecimento de muita coisa interessante, outras mais complicadas e que talvez não tenham serventia para nós ai. Mas vou anotando tudo, para depois ver o que se pode aproveitar.




Estou ansioso para saber da Luth e de todos afinal. 

E o JUCA, vai bem na escola? Não sei quem é "JUCA"! Talvez um aluno particular dela.

E o Homerinho? Muitas surras por dia ou baixou a média diária? Às vezes encontro boys na rua, que se parecem com o Homerinho e me assalta uma saudade grande de vocês todos. 

Talvez dentro de um mês estarei de volta, mas não posso dizer nada porque depende de vários fatores

A vida é algo aborrecida, porque, ou vamos ao cinema local (0.44 e 0.66 ou seja Cr$12.00 ou Cr$20.00) ou vamos para quarto ler e conversar

Fico aguardando uma cartinha sua com bastante notícias. Ainda não pensei nas compras, mas espero começar a fazê-las no sábado, quando não se trabalha.

Beijos saudosos a você e às crianças. 

Marília foi ao Rio?


Homero

sábado, 17 de maio de 2014

Curiosidades #4

Quando lemos as cartas do vô Homero e vemos o modo como ele descrevia as coisas, precisamos saber qual era a base de comparação que ele tinha.

Avenida Paulista em 1952

Acho que será interessante assistir a esse documentário sobre o transporte público em São Paulo, exatamente do ano de 1952


Ele mostra a cidade onde o vô Homero morava e que era seu mundo.

Não só por isso, mas também é interessante ver o que mudou (ou o que NÃO mudou) nesses 62 anos. 



#VemPraRua #NãoÉPelos20centavos




Em 1952,  o vô Homero reparou como todo mundo estava utilizando mais carros. Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Primeiros dias em Corning - 13/03/52

(Continuação do post anterior)

Nosso primeiro dia em Corning: às 9 horas, fomos ao escritório da Corning, simples, limpo, bem instalado, e lá o dr. Hicks nos recebeu muito bem, apresentando-nos a todo pessoal da seção dele.

Dentro dos escritórios, de janelas hermeticamente fechadas, a calefação é agradável, e todos estão em mangas de camisa. 




O uso do pull-over, sobre que o Sr. Moreira me avisara, não existe aqui. Ao saírem para o carro, as pessoas põem o seu pesado sobretudo, manta para o pescoço e luvas. Usamos o nosso pullover no primeiro dia, mas, ao chegar ao escritório, dentro daquele ambiente aquecido, sentíamos calor e suávamos. Renunciamos, então, ao uso do pullover, para não chamar a atenção da turma local.

© Gentleman's Gazette
Todos têm sido extremamente amáveis em Corning, tudo fazendo por facilitar as coisas. Imediatamente nos tratando pelo primeiro nome e desde logo se estabelece uma natural camaradagem, entre chefes e empregados, sem essa disciplina que temos no Brasil.

Foi feito um programa da minha estada com o Sr. Beirson, diretor geral de vendas, que já conhecida ligeiramente do Brasil. 

Terei de passar uma semana em Corning, vendo as operações da fábrica, depois viajarei uma semana pelo Est. de New York, Penns., vendo em algumas cidades, as grandes lojas que comparam e exibem Pyrex

Irei acompanhado de um inspetor de vendas e então colherei observações sobre a maneira de vender e de expor a mercadoria. Terei, ao que parece, uma semana no Canadá, na fábrica filial da Corning, para ver e observar embalagens e escolha do produto. 


Terei uma semana em N. York para ver as lojas, algumas fábricas que empregam tubos, etc. Parece-me enorme o programa a executar. Este primeiro programa, que não sei se será o único, dependendo de outros fatores, vai ter-me ocupado até 14 de abril.

Almoçamos no Centro de Vidro Glass Ele se confundiu. Quis dizer "Centro de Vidro Corning" (Corning Glass Center), uma maravilha, com o dr. Hicks e alguns chefes de vendas. Todos tem sido amáveis ao extremo, tudo fazendo para facilitar a nossa permanência e dispostos a tudo nos ensinarem. 

Colegas da S.M. No detalhe: foto extraída do site da Santa Marina


Entretanto, sinto saudades dos meus e dos meus colegas da S.M.






O Athos tem tido tremendas dificuldades por não falar inglês e ainda não arranjarem uma pessoa ou empregado que possa acompanha-los, mas acredito que isto em breves seja resolvido. Parece que terá de ir a Parkersburg.

Esta máquina falta alguns acentos e letras portuguesas mas penso que você não terá dificuldade em compreendê-la



Como vai a Luth. Espero ancioso uma carta daí, dando amplas notícias suas, das crianças e de Luth.

Vou terminar porque preciso sair para o Banco cuidar dos cheques a descontar.

(À mão)
Um beijo saudoso

Homero

sábado, 10 de maio de 2014

Curiosidades #3

Em 1851 Amory Houghton (foto) começou a investir nos negócios de vidro com sua firma Union Glass Co. em Somerville, Massachusetts.

Depois que mudou para o Brookling, New York, passou a operar sob o nome Brooklyn Flint Glass Works. Em 1868, sob o comando do filho de Amory, Amory Houghton Jr., transferiu sua sede para o interior do estado onde os custos de produção eram menores.

A cidade escolhida foi Corning e a empresa, então, passou a se chamar Corning Glass Works.
Mostrando pioneirismo, em 1908 investiu em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias criando o primeiro laboratório industrial de pesquisa.

Dos seus laboratórios saíram vidros mais resistentes; resistentes ao calor; vidros para laboratórios; o desenvolvimento do silicone; espelhos e lentes para telescópios (inclusive para o Hubble); vidro cerâmico;  válvulas para rádio; tubos catódicos para televisão; lentes oftalmológicas; vidros para janelas de espaçonaves; fibra ótica; aperfeiçoamento dos displays de cristal líquido (LCD).
A inovação mais atual foi o Gorilla Glass®, vidro superfino e muito resistente usado em smartphones, tablets, laptops etc.



Para comemorar o centenário da empresa, em 1951, foi criado em Corning, NY o Corning Glass Center, para servir de centro educacional e de pesquisa dedicado à história, ciência, arte e industrialização do vidro.


Atualmente é o Corning Museum of Glass.



Em 1952, o Corning Glass Center era uma novidade que o vô Homero, obviamente, conheceu. Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 


Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/Corning_Incorporated
http://en.wikipedia.org/wiki/Corning_Museum_of_Glass
http://media.corning.com/flash/corporate/2011/timeline/index.html
http://m.rocdocs.democratandchronicle.com/timeline/corning-inc-5

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Chegando em Corning - 13/03/52

Corning, 13 de março de 1952.

Minha querida Ilza;


Depois de minha última carta de N.Y., que fora escrita à noite, fomos dormir, fatigados por ter percorrido algumas ruas da cidade. 

Harlen, 1952 (© The Gordon Parks Foundation)
Entretanto, à partir de meia noite, aliás como avisava o rádio, começou uma tempestade de chuva e frio com velocidade espantosa. A janela do meu quarto batia constantemente, o mesmo acontecendo com as dos andares de baixo. 

Não podia dormir, e assim, quando deixamos o hotel, às 9,30 hs. para tomar o trem para Corning, o vento fazia coisas engraçadas nas ruas; da janela do nosso quarto, podíamos observar, o povo, mulheres e homens, lutando conta a chuva e o vento



A nota pitoresca foi a seguinte:
©Disney - Mary Poppins
Várias mulheres e homens tiveram os seus guarda-chuvas e sombrinhas virados do avesso pelo vento; o pano das sombrinhas era rasgado, o mesmo acontecendo com alguns guarda-chuvas; durante alguns minutos de observação, contamos, pelo menos 10 sombrinhas destruídas, e o mais interessante ainda era que, tão logo a sombrinha era rasgada pelo vento, a mulher lançava fora, num dos grandes cestos de ferro que se vêm em cada esquina de N.Y.

Ninguém se incomodava ou dava valor à sombrinha ou guarda-chuva. Aliás, vê-se muito poucos guarda-chuvas aqui. O frio era então intenso, mais agravado pelo vento cortante.

Tomamos o trem elétrico, que é realmente uma maravilha de conforto, limpeza e rapidez.


Ao sair de N.Y., à medida que passávamos pelos campos e pequenas cidades suburbanas, chamou-nos a atenção umas manchas esparsas nos campos queimados; manchas brancas, separadas, que a princípio pensávamos que fosse qualquer tipo de terreno, de areia, ou condição peculiar do local. Mas, como, à medida que o trem entrava pelo Estado de N.Y. e Pennsilvania, essas manchas aumentassem de tamanho e sempre brancas, descobrimos, com surpresa, que era o resto das últimas neves de inverno. Vimos então neve pela primeira vez, daí por diante até Corning, em cujos morros vizinhos ainda existe bastante. 


Aspecto da região do Estado de NY conhecida como Finger Lakes
Passamos por cidades pequenas, e não víamos viva alma nas ruas, nem na estação, como é tão comum nas estações do interior. Parecia que atravessamos cidades abandonadas. Havia neve ainda nos morros próximos e como chuviscava ligeiramente, o povo vive recolhido, aquecidos, e só se vêem automóveis, ou por outra, o povo só sai à rua de automóvel.

Corning, onde fomos recebidos pelo dr. Hicks e um ajudante, é uma cidade pequena mas muito bem organizada, limpa, com todo o conforto, com boas lojas, bares e restaurantes, e cinemas, o que vai muito bem para um homem como eu que não aprecia noitadas alegres.


Cartão Postal de 03/07/1948 que achei na cardcow.com, não é do vô
O Hotel, que é o melhor da cidade, prima pela limpeza e conforto, aliás a limpeza, a exagerada limpeza, ordem e asseio aqui neste país, parece ser hábito. É surpreendente como o copo, por exemplo, do hotel, é esterilizado, isto é, envolto em papel esterilizado, com a recomendação impressa de que foi esterilizado. 


"Água quente e fria,
em abundância, 
tanto no chuveiro 
(que é magnífico) 
como nas pias."




Bem, levaria um tempão se fosse contar essas particularidades da vida americana.


(Continua...)

sábado, 3 de maio de 2014

Curiosidades #2

Cornelius Vanderbilt
O Hotel Commodore, onde meu avô hospedou-se quando chegou em Nova York (e que cobrava $13.00 só para dormir!), tem esse nome em homenagem a Cornelius Vanderbilt, conhecido como "Commodore" (Comodoro).

Este poderoso dono do império de ferrovias New York Central Railroad e Hudson River Railroad, havia construído, em 1871, na 42nd Street com Fourth Avenue, o Grand Central Depot, estação central das suas ferrovias.

Com o passar dos anos, o crescimento do tráfego de trens fez com que o local ficasse inadequado.

O engenheiro da companhia, William Wilgus, propôs em 1899, a construção de novas linhas e adaptação das antigas, modernizando o sistema para operar com trens movidos a eletricidade. O plano ficou engavetado até que um trágico acidente em 1902 fez com que a legislação mudasse, proibindo trens à vapor abaixo do rio Harlen.



Saguão principal do Grand Central Terminal, 1954



No ousado projeto de Wilgus, as linhas seriam, em parte, cobertas e o espaço acima delas seria utilizado para construção de luxuosos hotéis, prédios comerciais e residenciais, ligados pelos subterrâneos à grande e nova estação central com vários níveis (foto). Isso tornou-se possível porque agora os trens eram elétricos


Quando totalmente desenvolvido, no final de 1920, o complexo Terminal City abrigava uma agência de correios; oito grandes hotéis de luxo (entre eles o Waldorf-Astoria, Roosevelt e Barclay); onze edifícios de escritórios (incluindo o New York Central, Postum e edifício Graybar); seis edifícios de apartamentos de luxo ao longo da Park Avenue; uma sala de exposições (Grand Central Palace, mais tarde demolida) e o Yale Club. Em 1920, a Grand Central abriu em seu sétimo andar uma escola de arte e galeria, Grand Central School of Art que funcionou por 20 anos. A área logo se tornou um distrito de negócios de primeira, e uma área das mais significativas para a arquitetura de Nova York.

Um desses hotéis era o Commodore.



O hotel foi projetado por Warren & Wetmore e abriu as portas em 28 de janeiro de 1919 com 2.000 quartos. Seu lobby era conhecido como o "Mais Bonito Lobby do Mundo" e, de tão grande, já chegou a receber um circo completo, com elefantes, inclusive, em seu principal salão de bailes. Foi bem sucedido por décadas.

Em 1967 recebeu uma reforma de $3.4 milhões e em 1972 se tornou o primeiro hotel a exibir filmes nos quartos. Em meados da década de 1970 entraram em decadência, tanto o hotel como as ferrovias, sendo que em 1976 somente o hotel teve um prejuízo de $1.5 milhão.

Chrysler Building and Grand Hyatt New York at night
Finalmente, em 1977, foi comprado pelo grupo do Donald Trump sendo totalmente reconstruído.

Reabriu em 1980, agora com o nome Grand Hyatt New York. 

A única parte intocada do Commodore foi o foyer do salão de baile principal em estilo neoclássico.

O vô ficou no Hotel Commodore e foi do Grand Central Terminal que partiu no trem para Corning, NY. Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 


Fontes:
http://architecture.about.com/od/usa/tp/GrandCentral-TerminalCity.htm
http://en.wikipedia.org/wiki/Grand_Hyatt_New_York

http://www.infrastructureusa.org/east-midtown-a-bold-vision-for-the-future/
http://news.discovery.com/history/us-history/grand-central-terminal-100-years-20120202.htm