quarta-feira, 30 de abril de 2014

Passeando em NY - 10/03/52


Esta é a 2ª folha da carta escrita dia 10/03/1952 à noite. A 1ª folha se perdeu :( 

 (...) Quanto embaraço nosso para responder, em inglês, à Ave-Maria e o “Pai Nosso”, que o padre rezou no final, naturalmente em inglês. Naturalmente respondemos em português... 

Percorremos, depois, a igreja e os altares. De uma maneira geral, predomina a cor entre o beije e o creme, e as imagens são todas esculpidas em pedra ou mármore, guardando sempre a mesma proporção. Seria alongar muito esta descrição se continuasse dizendo mais a respeito de S. Patrick. Não há tempo para descrever esta parte, que contarei pessoalmente, pois o papel não daria


Veja por dentro a Catedral de St. Patrick


Andamos, então, pelas Avenidas e ruas (para ser sincero, percorremos apenas pequena parte da 7ª Av. e a rua 57 e mais duas ou três transversais).  
(E lá se foram 2 horas!).



As ruas e avenidas são movimentadas, mas com muita ordem, e não nos pareceram barulhentas ou ruidosas. As lojas, de fato, maravilhosas, pelo que exibem, pelo bom gosto da apresentação.

Vitrinas e casas comerciais admiráveis; tem razão a mulher do Ceppo: a mulherada ficaria maluca vendo estas coisas à venda nestas lojas!
Não mudou nada até hoje, vô! 
Entretanto, só lingerie, blusas, meias para homens e senhora, é que nos pareceram realmente muito baratas, pois, calculando o dólar a 32,00, varias vezes desanimávamos! 




Anúncio na Macy's da época, com as meias citadas



Meias nylon custam de 59 cents a 1.20 (estas com desenhos no calcanhar e algumas já com florzinhas bordadas
na altura do tornozelo). 


Camisolas a 3 e 4 dólares, blusas a 4 dólares, anáguas de vários preços, toalha de mesa com guardanapos a 2 dólares, etc. Em compensação há muita coisa cujo preço, ao custo atual do dollar, não se pode comprar.


Almoçamos uma salada mixta e um prato completo, contendo galinha frita, batatas fritas, um bolo parecido com os nossos “sonhos” Provavelmente doughnuts, beterraba e ervilha (tudo no mesmo prato, mas muito bem disposto, agradável à vista e, embora faltando sal, estava saboroso. 

Limpeza impecável em tudo, solicitude, rapidez dos garçons, são as características destes restaurantes. Pagamos $1.64 cada um (48,00), inclusive a torta de maçã (uma fatia enorme!) e uma xícara igual à do Homerinho de café fraco*, com um gosto algo diferente, mas não totalmente ruim.


* "Igual à do Homerinho" significa cheia até a boca porque ele,
Homerinho, exigia tudo cheio até a boca para ter certeza que 
ninguém tinha bebido. Se não estivesse cheia até a 
boca perguntava: "Quem bebeu? Não bebo o resto!".

Bem, a descrição é longa, deixo de contar nossa visita a loja Macy’s (aquela da fita do Papai Noel, lembra-se?) onde comprei 3 p. de meias nylon para homem a 39 cents (Cr$ 11,00) e 2 gravatas (daquelas, sim, para não parecermos estrangeiros) a 66 centavos (Cr$ 20,00.)



(Aquela "fita do Papai Noel")

Estamos no quarto do Hotel, cançados de tanto andar nesta Babel e amanhã, 9,30, partiremos para Corning para nosso primeiro contato com os americanos da Corning. Pena não ter uma máquina de escrever, senão escreveria páginas e páginas.

E o bebê da Luth? Votos de perfeito “délivrance”.

Não se preocupe que tudo vai muito bem, graças a Deus, até aqui. Escreva para Corning.

Beijos às crianças e um saudoso abraço e beijos do
Homero







sábado, 26 de abril de 2014

Curiosidades #1


Nessas postagens de sábado não vou publicar as cartas. Vou postar outras coisas relacionadas à viagem.

Hoje, alguns pontos turísticos de Nova York, antes de serem concluídos.

Williamsburg Bridge: terminada em 1903

Empire State Building: terminado em 1931

Flatiron Building: terminado em 1902


Cabeça da Estatua da Liberdade em 1878, ainda na França: terminada em 1886



Catedral de St. Patrick: terminada em 1879

Encerro o post com St. Patrick, que o vô Homero vai mencionar na próxima carta.  Isso no próximo post, na próxima quarta-feira. Até lá. 

quarta-feira, 23 de abril de 2014

N.Y.: Primeiras Impressões - 10/03/52



N.Y., 10-3-52 
Propaganda da Pan American no Brasil

Querida Ilza: 


Aqui estamos nesta Babel, que vejo atravez da janela do nosso quarto, no 12º andar do “Commodore”. 



Viagem excelente sob todos os pontos de vista: estabilidade, segurança, conforto relativo e excelente comida.

Chegamos à N.Y. às 9,30 da noite (hora N.Y. = meia noite no Brasil) e no hotel às 11,40, visto que devido à afluência constante de passageiros chegando do mundo inteiro, dificulta o serviço da Alfândega, que foi onde perdemos mais tempo de espera. 


Carimbo do passaporte em N.Y.











Fazia 5º, frio seco, agradável, não havendo necessidade de pullover. 

São 7,30 da manhã de 2ª-feira (10) e vejo lá fora todo mundo encapotado, enquanto o rádio do nosso quarto diz que a temperatura é 38ºF ou seja mais ou menos 8º. 

Tudo, pelo que nos foi dado ver à noite, do avião ou no Hotel, é realmente bonito

Hotel Commodore em 1919


"Nosso Hotel,
um dos melhores,
está cobrando 
$13.00 *
(Cr$ 390,00, dollar a 30,00) 
por dia, 
só para dormir! 
É um bocado de dinheiro! "





Esta carta é rapidamente feita, com dificuldade,

e é apenas para dizer que vamos bem, tudo bem e não fique nervosa à toa. Arranjando uma máquina, farei um relatório completo.
Vamos tomar café em baixo, numa “Cafeteria”, depois vamos à St. Patrick e, depois, ao escritório da Corning e passear por aí. 

Espero que o bebê da Luth (irmã da Ilza) tenha chegado e que você esteja ocupadíssima sem se preocupar comigo, exageradamente. 

Beijos nas crianças e a todos. 

Um beijo saudoso do HRJ

*Clique aqui e veja os preços dos Hotéis em NY hoje! O.o




quarta-feira, 16 de abril de 2014

Partida - 08/03/52


"Esta carta vai com mais duas cópias para ser simultaneamente lida pelos amigos, visto que tenho estado algo sobrecarregado de trabalho e, neste período inicial de adaptação, terei de negligenciar um pouco a minha correspondência, que gostaria fosse estrictamente pessoal a cada um de todos da Santa Marina, com quem por tantos anos venho convivendo."
Jantar de despedida oferecido pela diretoria da Santa Marina
                "Fiz uma ótima viagem aérea. Não imaginava que, após a partida de S. Paulo ou do Rio, a gente fosse adquirindo um sentimento de segurança a tal ponto que, em breves horas, já não se pensa mais que estamos num avião a 4 ou 5 mil metros de altitude e com a vida por um fio. O sentimento de segurança é tal que, em breve, passamos a ler, a cochilar, a comer, enfim, a fazer as coisas como se estivéssemos em terra firme, em casa mesmo."

Propaganda da Pan American nos EUA: Que maravilha era voar naquele tempo! NY - RJ em apenas 20 2/3 horas!


Carimbo do passaporte na ida
"Deixamos o Rio à noite e o espetáculo era inesquecível: uma orgia de luzes a se espraiar durante vários minutos, como a tornar mais triste a despedida. Belém, de madrugada, não nos deu boa impressão: luzes fracas, a tal ponto que não pudemos distinguir onde era propriamente a cidade. Sentia-se o famoso calor abafante que o dr. Ceppo nos falara." 





Souvenir da PanAm. À mão anotação de que cruzaram o Equador 20 minutos depois de deixar Belém.
"Saibam todos a quem este for apresentado que:
Homero R. Jancowski
sendo conduzido nas assas de um Clipper da
Pan American World Airways
cruzando o Equador em 09/03/52
foi aceito no Reino Imperial
de Sua Elevada Majestade Rei Jupiter.
Dado e firmado por mim
A. H. Johnson
Capitão de Clipper e Plenipotenciário Extraordinário R. O. J. R."




Pôster da PanAm

"Depois de breve parada em Caracas (não é em Caracas que o avião para, mas sim num aeroporto a uma hora de viagem, sito no litoral). Nada de importante a assinalar, somente as caras de índios que tem os soldados que guardavam o aeroporto, que se acha ainda em fase de construção. 




Porto Rico (S. Juan) foi nosso primeiro contato com os americanos. Nota-se desde logo a organização, o sentido de conforto, a limpeza, a solicitude, que marcam bem o caráter do povo americano. O povo é muito cioso de sua origem espanhola e índia, e pareceu-me que todos falam fluente o inglês, que, entretanto, só utilizam mesmo quando precisam falar com estrangeiros ou os próprios americanos. Perguntei em que língua preferia falar, e ele imediatamente disse que em espanhol."




- Trecho da carta-relatório enviada em 15/03/1952


UPDATE 08/03/16:

Lista de passageiros do voo da Pan American encontrada no site familysearch.com




terça-feira, 15 de abril de 2014

Prólogo

Dia do casamento - S. Paulo 22-1-1931
Homero nasceu dia 10 de novembro de 1904 em Porto Alegre (RS) e Ilza em 13 de novembro de 1908 em Machado (MG).

Casaram-se em 22 de janeiro de 1931 em São Paulo (SP)  onde viveram até a morte, dele em 27 de novembro de 1968, dela em 22 de setembro de 1987.

Tiveram 4 filhos sendo que o primogênito faleceu com menos de um ano de idade. Os outros 3 lhes deram 8 netos que lhes deram, até agora, 7 (quase 8!) bisnetos.

Foi militar e trabalhou na Companhia Vidraria Santa Marina até se aposentar.

Era ávido por conhecimento e cultura geral e conhecia o mundo através das páginas dos livros e revistas que devorava. Falava francês e inglês.

Como descrito no cabeçalho deste blog, ele foi mandado em 1952, aos Estados Unidos pela Santa Marina que lançaria no Brasil os refratários para cozinha Pyrex, que hoje são sinônimo para travessas de vidro!

Como gostava muito de escrever e sendo bastante detalhista, suas cartas nos mostram como um brasileiro que visitava pela primeira vez os Estados Unidos via e sentia a cultura americana daquele tempo .

Além dos livros e revistas, o cinema fazia parte da sua base de referência naquela época. Televisão ainda engatinhava.

1964 com Flávio, meu pai
Eu sou o penúltimo neto deles, não o conheci, mas meu pai diz sempre que eu me daria muito bem com ele.

Espero que tenham o mesmo prazer que eu estou tendo ao ler esses relatos. Acompanhem.